
Há anos, ainda não sonhava sequer em poder estar na Assembleia Municipal, assisti, como todos os arcuenses, às obras para que a Valeta “nunca mais sofresse inundações”.
Discuti com alguns amigos, alguns com formação de engenharia, que aquilo era gastar dinheiro mal gasto, pois as inundações continuariam. Diziam, que a água do rio “puxava” a do ribeiro de Vilafonche. Dizia eu, esperem por uma cheia a sério e vão ver o que acontece.
Felizmente (ou infelizmente, porque o Minho é o que é devido à abundância de água), as chuvas tem escasseado e não temos tido verdadeiras cheias nos últimos anos. Além disso, como tem chovido pouco, a barragem de Lindoso nunca estava muito cheia, pelo que a EDP nunca tinha necessidade de debitar muita água, pelo que o Lima também não enchia muito.
Este ano, lá veio uma cheia das antigas e, como é natural, a água do ribeiro de Vilafonche não coube no túnel e as águas inundaram a valeta.
Este é mais um exemplo do populismo que existe em alguns dos autarcas, quer seja em Arcos de Valdevez, Oeiras, Madeira ou Nova Orleães. Para agradar a alguém as câmaras permitem a construção em leito de cheia (nível máximo que historicamente a água de um rio alcançou). Claro, depois há inundações e lá vem os donos exigir que a câmara tome medidas, vai daí, entubam-se ou muram-se os ribeiros.
Infelizmente o dinheiro ainda não compra a natureza e esta rege-se por leis que ainda não dominamos, apesar de neste caso, o Homem estar a trabalhar arduamente para o agravamento dos efeitos climáticos. Vai daí, o ciclo hidrológico está-se nas tintas se nos leitos de cheia há moinhos, casas de habitação ou centros comerciais… se é para chover, é para chover! Se o Homem roubou os meus canais, impermeabilizou os solos… a água vinga-se e leva o que é nosso!
Existe um conceito, que infelizmente ainda não faz parte do léxico dos governantes, que se chama desenvolvimento sustentável. Enquanto não agirmos com respeito pela natureza e pelos fenómenos naturais, catástrofes como as de Nova Orleães, da Madeira e inundações na Valeta, vão existir.
Os ribeiros não são para entubar e os leitos de cheia são para respeitar!
Álvaro Amorim
Nota: Não tenho nenhuma foto desta cheia, mas tenho de uma mais pequena de 2009, daí a foto a acompanhar o artigo. No facebook há muitas fotos da cheia.